Em muitos ambientes, públicos ou privados, a cena é repetitiva: alguém que deveria servir com urbanidade, respeito e eficiência, transforma sua posição em um pedestal de arrogância. Essa é a chamada síndrome do pequeno poder, uma metáfora para descrever o comportamento de quem, investido de uma função modesta, passa a agir como um soberano inatingível, usando a função que exerce não para facilitar a vida das pessoas, mas para complicá-la.
Essa síndrome se manifesta quando, por exemplo, um atendente de repartição pública, que deveria orientar com paciência, responde com impaciência e desdém a quem busca informações. Ou o porteiro de um prédio que, ao invés de acolher visitantes com cortesia, impõe obstáculos desnecessários como se proteger o edifício fosse uma missão heroica. Ou ainda aquele funcionário de empresa que, ao possuir controle sobre um simples formulário ou processo, se comporta como se fosse o guardião de um tesouro.
Um exemplo na bíblia é o comportamento dos fariseus no tempo de Jesus. Investidos de autoridade religiosa, eles criaram tantas regras e barreiras que o acesso a Deus, que deveria ser simples e direto, tornou-se pesado e opressor. Jesus denuncia essa atitude em Mateus 23:4:“Atam fardos pesados e difíceis de carregar e os põem sobre os ombros dos outros, mas eles mesmos não estão dispostos a levantá-los nem com um dedo.”
É importante lembrar que todo poder, pequeno ou grande, é antes de tudo uma responsabilidade. Ele existe para servir, para criar pontes, para dar dignidade, nunca para humilhar ou criar muros. A verdadeira grandeza está em servir com humildade, como ensinou o próprio Jesus: “Quem quiser tornar-se grande entre vocês, que se coloque a serviço dos outros.” (Mateus 20:26).