O avanço do conhecimento sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA) permitiu que muitas pessoas adultas fossem diagnosticadas tardiamente. Esse diagnóstico pode representar alívio e autocompreensão para quem passou anos sentindo-se deslocado ou incompreendido. No entanto, o aumento da visibilidade do autismo na vida adulta também traz novos desafios sociais, éticos e jurídicos.
É preciso reconhecer que o TEA se manifesta de formas muito distintas, abrangendo desde pessoas com severas dificuldades de comunicação até indivíduos altamente funcionais, capazes de exercer atividades complexas com excelência. Por isso, nem todo diagnóstico implica incapacidade laborativa, e é justamente aqui que reside uma das questões mais sensíveis do debate contemporâneo.
Nesse aspecto, surge um dos maiores desafios enfrentados por adultos autistas que não apresentam traços “clássicos”, como dificuldade de fala e isolamento extremo: são frequentemente rotulados como “excêntricos”, “antissociais” ou “preguiçosos”. Esse erro de percepção leva ao sofrimento psíquico e ao agravamento de quadros de ansiedade e depressão entre aqueles que tentam se inserir no mercado de trabalho, o qual é influenciado pela cultura da “normalização”, ou seja, a imposição de um padrão de comportamento neurotípico que ignora as especificidades neurológicas dos autistas.
Infelizmente, há também quem se valha do diagnóstico como escudo para se esquivar de responsabilidades, mesmo tendo plenas condições de buscar desenvolvimento pessoal e profissional. Essa postura não apenas fragiliza a imagem pública da comunidade autista como também deslegitima as demandas daqueles que realmente precisam de apoio integral.
Portanto, é importante ampliar o debate sobre o autismo na vida adulta, não apenas como uma questão médica, mas, sobretudo, como uma pauta social. É necessário construir políticas públicas inclusivas, capacitar profissionais da saúde e da educação, adaptar ambientes de trabalho e promover campanhas de conscientização que desfaçam estigmas. Autistas adultos existem, pensam, sentem, produzem e têm o direito de ocupar o mundo em sua plenitude.
Em última análise, refletir sobre o autismo na vida adulta é reconhecer que a inclusão não pode ser seletiva nem sazonal. A verdadeira inclusão começa quando somos capazes de enxergar, respeitar e apoiar a neurodiversidade em todas as fases da vida. Afinal, maturidade social também é saber conviver com as diferenças que não desaparecem com o tempo.