
Arlindo Domingos da Cruz Filho, mais conhecido como Arlindo Cruz, morreu nesta sexta-feira (8/8). A informação foi confirmada pela mulher do artista, Babi Cruz. Arlindo sofreu um acidente vascular cerebral hemorrágico em março de 2017, depois de passar mal em casa, e ficou quase um ano e meio internado. Desde então, ele lidava com as sequelas da doença e passou por várias internações. Arlindo Cruz foi um dos principais nomes da música brasileira.
Cantor, compositor e instrumentista, o artista participou do grupo Fundo de Quintal até iniciar a carreira solo nos anos 1990, compôs músicas para outros ícones brasileiros e influenciou gerações de sambistas e pagodeiros.
O compositor criou diversos sambas enredos para o carnaval do Rio de Janeiro. Agremiações como Império Serrano, Vila Isabel, Grande Rio e Leão de Nova Iguaçu, além de outros ícones musicais, como Beth Carvalho e Zeca Pagodinho, interpretaram canções do sambista.
Arlindo é autor de sucessos como Meu lugar, Será que é amor, O show tem que continuar, Meu poeta e O bem. Foi indicado ao Grammy quatro vezes, todos entre 2008 e 2016.
Em 17 de março de 2017, sofreu um acidente vascular cerebral que deixou sequelas e afetou os movimentos do corpo, o que impactou de maneira significativa a carreira musical e pessoal do artista. Pai de Arlindinho e Flora Cruz, era casado com Barbara Cruz desde 2012.
História
Cruz começou a carreira musical por volta de 1975, quando entrou para a escola Flor do Méier, dedicado às aulas práticas e teóricas do solfejo e violão clássico. Nos anos de estudo começou a trabalhar profissionalmente em rodas de samba com vários artistas, um deles Candeia, que o ajudou a gravar os primeiros discos.
Arlindo concedeu entrevista ao Correio Braziliense em 2014 e falou sobre a amizade com Candeia. “Conheci Candeia ainda moleque. Meu pai tocou com ele em um grupo chamado Mensageiros do Samba, que chegou a gravar um LP na década de 1960. Eu tinha uns 12 ou 13 anos e Candeia me dava um dinheiro para ensiná-lo a tocar cavaquinho. Violão era mais difícil por causa da cadeira de rodas dele. Um dia, Candeia me chamou para tocar com ele e eu topei. Tudo o que aprendi sobre arte e negritude, como samba de roda, capoeira e jongo, foi com ele. Candeia é o cara!”.
O jovem sambista participou, no cavaquinho, de um compacto simples e um disco chamado Samba de roda. Arlindo considerava Candeia seu padrinho musical, responsável por abrir as portas da música para ele, com apenas 13 anos. Porém, aos 15 anos de idade, o artista se mudou para Barbacena, em Minas Gerais, para estudar na Escola de Cadetes do Ar.
Mesmo ocupado com afazeres do preparatório, Arlindo não desistiu da música e cantou no coral da instituição. Nessa época, ele chegou a ganhar festivais em Barbacena e Poços de Caldas. Após sair da Aeronáutica, Cruz começou a frequentar a roda de samba do Cacique de Ramos todas as quintas-feiras.
Na turma, ele teve contato com outras lendas da música nacional, como Jorge Aragão, Almir Guineto, Beto Sem Braço, Beth Carvalho e Ubirani. A roda de samba também ajudou a revelar muitos talentos que faziam parte ainda jovens, como Zeca Pagodinho e Sombrinha. Assim que o sambista Jorge Aragão saiu do Fundo de Quintal, Cruz recebeu o convite para participar do grupo.
Lá, ele viu a oportunidade do pontapé inicial na ascensão de sua carreira e se fidelizou ao grupo por 12 anos, compondo canções como: Só pra contrariar, Seja Sambista Também, O mapa da mina e Castelo de cera. Ao todo, Arlindo Cruz teve mais de 550 músicas gravadas por outros cantores.
Depois que saiu do Fundo de Quintal, ele firmou parceria com Sombrinha e alguns anos depois se casou com a porta-bandeira Babi Cruz, com quem teve os filhos Arlindinho e Flora Cruz. Nos anos 1990 começou a compor pela escola de samba do coração, Império Serrano, mas posteriormente também disputou por outras escolas de samba.
A partir dos anos 2000, mesmo que com algumas obras sem par, o sambista definitivamente consolidou sua carreira solo e gravou mais oito álbuns, atingindo seu auge. Conquistou diversos prêmios nacionais e recebeu quatro indicações ao Grammy Latino.
Após sofrer o AVC em 2017, a voz de Madureira chegou a passar por mais de 17 cirurgias. Arlindo ficou internado no hospital por quase dois anos, até voltar para a casa supervisionado por uma equipe médica. A doença impedia o cantor de falar e andar, afastando-o dos palcos, mas para sempre vivo na memória do país, com um legado imensurável.
Por: Correio Braziliense