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Especialista explica sintomas da ‘doença do pombo’ que matou atendente de loja no Acre

Infectologista Cirley Lobato explicou os principais sintomas da doença que matou a atendente de loja Sandra Silveira, de 49 anos, na última quarta-feira (15). Em nota divulgada neste sábado (18), Sesacre disse que caso está sendo investigado.

Tosse, dor no peito, dores de cabeça, tontura, vômito. Estes são alguns dos sintomas da criptococose, conhecida como “Doença do Pombo”, que causou a morte da atendente de loja Sandra Silveira Bezerra, de 49 anos, na última quarta-feira (15) no Pronto-Socorro de Rio Branco. Sandra ficou internada na unidade de saúde por uma semana.

A vítima recebeu o diagnóstico na terça (14). Na certidão de óbito consta que Sandra faleceu de meningite fúngica, criptococose, edema cerebral e pneumonia. Ela trabalhou por mais de 12 anos em uma loja de variedades que fica na Rua Cel. Alexandrino, bairro Bosque, na capital acreana, localidade onde há a presença constante de pombos.

A equipe de reportagem conversou com a médica infectolosta Cirley Lobato para saber mais sobre a doença causada por um fungo presente nas fezes dos pombos.

“É causada quando a pessoa inala os poros do fungo, chamados criptococos, e, nesse momento, vai para o pulmão. Inicialmente, o paciente pode apresentar um quadro de pneumonia, uma gripe, que se confunde com muita coisa. Como a doença do pombo não é tão frequente, o diagnóstico é mais difícil”, contou.

A especialista explicou também que o fungo pode entrar na circulação sanguínea do paciente e atingir o cérebro, causando um quadro de meningite com dor de cabeça intensa. Sandra começou a passar mal no final do mês de setembro com tontura. Em outubro, passou a sentir muita fraqueza, tosse e dificuldades para respirar.

Sandra Silveira morreu nessa quarta-feira (15) no Pronto Socorro de Rio Branco — Foto: Arquivo pessoal

Sandra Silveira morreu nessa quarta-feira (15) no Pronto Socorro de Rio Branco — Foto: Arquivo pessoal

“É uma dor de cabeça intensa que não passa com medicação para dor, como dipirona, paracetamol, vômitos e pode ter alteração de consciência. Infelizmente, pode evoluir para a morte e ter sequelas. Para eu fazer o diagnóstico de um agravo, tenho que pensar neste agravo. Como não é uma doença tão frequente, e muitas vezes atinge com quadros mais graves, pessoas que têm alguma imunossupressão, não pensado logo nisso”, ressaltou.

A infectologista destaca também que, em pessoas sem comorbidades, a primeira avaliação leva a crer em um quadro de Covid, gripe, tuberculose, pneumonia e até meningite.

“O paciente vai evoluindo, vem um quadro mais grave e aí que se pensa em um quadro do fungo. É importante no diagnóstico a epidemiologia, descobrir o que o paciente faz, onde estava, se tem a presença ou de local. Sempre falo que o pombo não é o mal, ele traz o mal porque o fungo está nas fezes do pombo”, lamentou.

Exame detectou a presença do fungo Cryptococcus no organismo de Sandra Silveira — Foto: Reprodução

Exame detectou a presença do fungo Cryptococcus no organismo de Sandra Silveira — Foto: Reprodução

Cuidados

Cirley explicou quais cuidados são necessários para evitar o contato com o fungos. Ele orientou a população a não alimentar as aves para evitar a presença delas nos locais.

“Não exterminar os pombos, tem que ter cuidado quando estiver manuseando as fezes do pombo, tem que lavar bem com água, sabão, o cloro consegue eliminar bem os poros, usar máscaras e luvas quando estiver manuseando este material”, orientou.

Diante de qualquer sintoma, a pessoa precisa procurar uma unidade de saúde. “Geralmente, tratam como uma pneumonia. Se não melhorar, volte ao profissional de saúde para se fazer uma investigação melhor. Começa a apresentar dor intensa na região da nuca, vômito forte. Procure o atendimento médico porque existe tratamento”, disse.

Sandra Silveira com as filhas, Fábia Rodrigues, de 31 anos, e Rebeca Silveira Lopes, de 20 — Foto: Arquivo pessoal

Sandra Silveira com as filhas, Fábia Rodrigues, de 31 anos, e Rebeca Silveira Lopes, de 20 — Foto: Arquivo pessoal

Diagnóstico

Em outubro, Sandra foi levada à Unidade de Pronto Atendimento (UPA), fez um raio-X e foi detectada uma mancha em seu pulmão. Foi então que a filha mais velha levou Sandra em um pneumologista para exames mais específicos.

Ela ficou na UPA do 2º Distrito até dia 8 de novembro, quando foi transferida para o pronto-socorro. Na unidade de saúde, segundo Fábia Rodrigues, filha da atendente, fizeram um exame para meningite e a atendente começou a tomar antibióticos.

“Só pensaram na meningite bacteriana e a viral, não pensaram na fúngica. Foi tomando o antibiótico, mas não havia melhora. Foi para as dosagens mais altas dos antibióticos, a dor de cabeça só piorava, a infecção muito forte também. Houve uma demora muito grande para se descobrir. Fui atrás várias vezes. Ela também teve alterações na visão. O médico explicou que por conta do edema cerebral ocorria essa alteração na visão, mas que quando desinchasse voltaria ao normal”, disse.

O diagnóstico certo foi descoberto apenas na última terça-feira (14), quando Fábia pegou o resultado do exame feito em Sandra no laboratório e apresentou para o médico plantonista. A jovem conta que sempre desconfiou que a mãe tinha doença do pombo devido à presença das aves próximo ao local do trabalho dela.

“Um médico chegou para fazer visita e falei que tinha a suspeita da doença do pombo. Ele me deu uma autorização para eu ir no laboratório buscar o exame. Peguei e levei pra ele. Quando viu, falou que realmente era a doença do pombo. Disse que foram encontradas criptococoses e entraria com a medicação antifúngica”, explicou.

Sandra estava internada na observação do PS quando descobriram a doença. Para tomar a medicação, ela precisava ser transferida para uma enfermaria do andar de cima. Essa transferência foi feita no início da noite de terça, mas a atendente passou muito mal e precisou ser intubada.

“O cérebro dela estava muito inchado, por isso sentia muita dor de cabeça. Se os exames tivessem saído mais rápido, fui no laboratório pegar o resultado. Onde ela trabalhava tinha muito pombo, às vezes, ficava lá pela frente aguardando entrar. Ela passava a maior parte do tempo lá. Ainda estou sem chão, agora que consigo falar”, lamentou.

Saúde investiga caso

Depois da morte de Sandra, a Secretaria de Saúde do Acre (Sesacre) emitiu uma nota neste sábado (18) afirmando que o órgão investiga o caso.

No comunicado, o chefe do Departamento de Vigilância em Saúde, Edvan Meneses, disse que o caso foi confirmado por meio de exame no último dia 8 de novembro, e que diversos órgãos estão envolvidos nessa investigação, tais como Núcleo de Zoonoses, Rede Nacional de Vigilância Epidemiológica Hospitalar, Divisão de Vigilância Ambiental e Centro de Referência em Saúde do Trabalhado.

“Antes de qualquer coisa, é necessário destacar que não devemos exterminar ou ter medo dos pombos, são animais sinantrópicos, adaptados ao convívio com os seres humanos a milhares de anos e com importante papel ecológico para o equilíbrio da vida. Todavia é necessário adotar medidas de higiene, controle e manejo para evitar os problemas que podem ser causados por pombos”, complementou.

Com informações G1 Acre

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