sexta-feira, 26 julho 2024

Francisco Piyãko: “A única alternativa para nós, povos da Floresta, é eleger Lula”

Secretário dos Povos Indígenas do Acre e assessor especial da presidência da Funai, Francisco Piyãko foi candidato a deputado federal em 2018 pelo PSOL e este ano pelo PSD. Piyãko vem lutando para ampliar a representação indígena na política. Mas se o formato da política partidária não foi favorável a esse projeto, tampouco o impediu que defendesse as causas indígenas e ambientais no âmbito regional, estadual, nacional ou até mesmo internacional. Foi assim que ajudou a articular a criação da Coordenação Regional da Funai do Juruá, ou que participou dos debates em São Paulo, Rio de Janeiro ou Brasília sobre a relação entre proteção ambiental e a defesa da faixa de fronteira. Recentemente foi convidado a participar em Oxford no Reino Unido, de um debate sobre economia e sustentabilidade na Amazônia.

É nessa condição, de um dos principais líderes do movimento social que Francisco Piyãko chama defende o voto em Lula neste segundo turno. “Não sou partidário, mas a agenda de Bolsonaro não tem nada a ver com os princípios que eu trabalho e que eu luto. A floresta está maltratada, os povos indígenas estão maltratados, os povos da floresta, as cidades do interior estão maltratadas. Muita gente não tem espaço nesse governo. Por uma questão de coerência estou com Lula, pela aproximação com nosso projeto”, explica.

Em entrevista ao jornalista Leandro Altheman, Francisco fez uma avaliação sobre as eleições deste ano, os projetos futuros e a urgência em estabelecer um novo paradigma sobre a Amazônia.

L.A. – Você obteve pouco mais de 2.200 votos. Neste ano tivemos outras candidaturas indígenas para federal, mas mesmo somando os votos, ainda não seriam suficientes para eleger um deputado federal. Qual a avaliação que você faz deste resultado deste ano?

F.P.: Os votos indígenas nunca vão ser na totalidade distribuídos entre candidaturas indígenas. Os partidos entraram dentro das terras indígenas e não são percebidos como direita ou esquerda. Ainda tem uma cultura muito forte do tempo dos seringais de votar em quem agrada mais, para tentar levar maior vantagem. Isso é desde o tempo dos seringais, foi difícil romper com isso para a criação das Terras Indígenas e mesmo hoje isso ainda é uma realidade. Tanto os partidos políticos, assim como as religiões chegam mexendo nessa intimidade das famílias indígenas. São poucos que estão olhando além deste limite. Muito difícil ter uma candidatura pensando que vai ser uma unanimidade entre os indígenas.

Em 2018 você disputou uma vaga pelo PSOL, neste ano pelo PSD, você buscou uma posição de diálogo com setores pouco identificados com as causas indígenas. Como foi essa experiência? É possível estabelecer canais de diálogo com esses segmentos?

F.P: Uma candidatura indígena não é para ser uma candidatura apenas dos índios, ela tem que ser ampla, tem que ser uma candidatura federal, estadual ou municipal para defender causas e uma delas, por eu ser um indígena, a pauta indígena é claro que vais estar no centro deste debate, baseado no que está garantido na constituição federal, pois também não vou inventar nada. A questão ambiental que é onde é a minha casa, é de onde eu venho é a pauta de centro. Mas eu entendo que o mandato seria da diversidade, de povos que não tem lugar nestas questões, uma oportunidade de a gente se auto representar.

Ser pelo PSOL ou PSD não faz muita diferença. Todos os partidos sabem da minha história, não sou partidário. Alguns princípios são orientadores, norteadores de tudo que faço e vou fazer para frente, um deles é o que a gente conseguiu conquistar o que está na nossa constituição federal. Meu público é a sociedade mais carente desse país. Não posso admitir que tenha gente no nosso país, no nosso estado passando fome, não estou falando de populações indígenas, estou falando de populações urbanas.

Esse tempo todo me posicionei a favor das terras indígenas, da promoção dos direitos dos povos indígenas das unidades de conservação, da questão ambiental, da diversidade cultural, da diversidade religiosa, sempre pelos povos da floresta. Sempre discuto muito sobre a pobreza, porque o conceito de riqueza que é plantado muitas vezes não dialoga com a nossa realidade, tenho me posicionado sempre de maneira crítica sobre a destruição da Amazônia. Considero fruto de pura ignorância. Temas como esse não são para ficar discutindo se isso é esquerda ou direita, é uma responsabilidade da nação brasileira, dos povos brasileiros. É uma obrigação do estado brasileiro cuidar deste patrimônio, não é uma questão de partido nem ideologia, acho que todos tem a mesma responsabilidade de pensar a sustentabilidade, de pensar o presente e o futuro.

O projeto de se lançarem você e Isaac juntos foi uma estratégia para aumentar as chances de ambos. Mesmo assim, Isaac alcançou apenas suplência e ficou sem a prefeitura de Marechal Thaumaturgo. Diante disso, como vocês dois avaliam esse resultado?

F.P.: Estamos muito tranquilos com tudo isso. Iniciamos uma transição que é não é de responsabilidade pessoal apenas, mas de responsabilidade de um coletivo manter e segurar esse processo em transição. Isaac ganhou a prefeitura reunindo todos os adversários de Marechal e deixou um vice preparado para conduzir esse processo de mudança. Essa liberdade foi alcançada e o povo não vai querer voltar mais para o sistema de barracão. Nosso objetivo era ampliar essa experiência para outros locais do estado. Não nos sentimos derrotados, fizemos a nossa parte de levar uma alternativa para que a gente pudesse ter aqui no Acre dias melhores, mas como não ganhamos, também não perdemos, lutamos todos os dias para que a gente tenha nossa sociedade respeitada.

Você foi um crítico das políticas do governo Bolsonaro que esteve muito presente nos quatro anos deste governo, agora teremos uma disputa entre Lula e Bolsonaro. Como você enxerga esse segundo turno, e qual sua posição perante estas eleições?

F.P.: Não sou partidário, tenho total liberdade de dizer que não tenho nenhuma afinidade com esse atual governo. Não tem um alinhamento com o povo brasileiro, tem uma parcela que o elegeu que está do lado dele, mas não tem a totalidade. Sou uma das pessoas que não me identifico com a postura do presidente Bolsonaro que não tem nada a ver com nossa realidade e nem com nosso propósito de manter a Amazônia em pé com sua diversidade e riqueza. Hoje a Amazônia é malvista, mal utilizada e mal interpretada por este atual governo.

Quanto às eleições, não se trata de primeiro ou segundo turno, se trata de uma realidade muito clara: eu estou com Lula nessa eleição. Não tem outra opção, não tem outra alternativa que não seja trabalhar com o nome Lula. A agenda Bolsonaro não tem nada a ver com os princípios que eu trabalho e que eu luto., floresta está maltratada, os povos indígenas estão maltratados os povos na floresta, e nas cidades de interior maltratados. Muita gente não tem espaço nesse governo. Por questão de coerência estou com Lula, pela maior aproximação com nosso projeto.

Claro que respeitar quem pensa diferente é um dos princípios que me norteiam. Não tenho que brigar com aqueles que forem com Bolsonaro. É um direito de cada um, como eu também quero ser respeitado pelas minhas escolhas. Tive muitos eleitores que eram Lula, e muitos que eram Bolsonaro, então eu respeito mas estou falando de mim, essa postura minha é que tem uma relação com meu trabalho e estou convidando os povos da floresta, indígenas, extrativistas, ribeirinhos e aos mais carente a ajudar a eleger o Lula, porque essa é oportunidade de uma retomada dos nossos trabalhos nas organizações sociais.

Por Leandro Altheman

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