As taxas dos DIs fecharam a terça-feira em baixa, em especial entre os contratos de 2026 e 2027, ainda se ajustando após a disparada de sexta-feira e sob influência da queda dos rendimentos dos Treasuries, com a curva a termo reagindo ainda a sinalizações do governo Lula de que poderá cortar despesas no Orçamento de 2025.
O resultado da inflação medida pelo IPCA, divulgado mais cedo, foi mal-recebido pelos investidores, o que contribuiu para segurar um pouco a queda das taxas nos vértices de curtíssimo prazo.
No fim da tarde a taxa do DI (Depósito Interfinanceiro) para janeiro de 2025 — que reflete a política monetária no curtíssimo prazo — estava em 10,625%, ante 10,679% do ajuste anterior. A taxa do DI para janeiro de 2026 estava em 11,195%, ante 11,308% do ajuste anterior, enquanto a taxa para janeiro de 2027 estava em 11,505%, ante 11,617%.
Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2029 estava em 11,885%, ante 11,955%.
A disparada das taxas na última sexta-feira, em meio a ruídos em relação à área fiscal, já havia sido em parte compensada pelo recuo visto na segunda-feira. Nesta terça as taxas cederam um pouco mais, conforme profissionais ouvidos pela Reuters, novamente se ajustando ao movimento de sexta.
“Houve uma movimentação muito exagerada na sexta-feira, então um ‘rebound’ (recuperação) seria natural. Mas ainda assim ele é tímido, porque o cenário continua nebuloso”, comentou Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.
Além das preocupações dos investidores com a área fiscal brasileira, na quarta-feira o Federal Reserve anunciará sua decisão de política monetária, com pistas sobre quando começará a cortar juros. Em meio à expectativa antes dos dados, os yields dos Treasuries cederam nesta terça-feira, o que também contribuía para o recuo das taxas dos DIs no Brasil.
Algumas sinalizações de que o governo Lula poderá apresentar propostas para reduzir gastos no Orçamento de 2025 também influenciavam a queda das taxas futuras, afirmou o economista-chefe do banco Bmg, Flavio Serrano.
Na manhã desta terça-feira, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que levará propostas sobre a revisão de gastos públicos ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva quando o governo discutir o Orçamento de 2025. Segundo ele, vários cenários estão sendo discutidos pela área técnica da Pasta. No entanto, ele não detalhou as propostas.
Também pela manhã o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,46% em maio, com os custos de alimentação intensificados pelas fortes chuvas no Rio Grande do Sul e a inflação de serviços pesando mais.
A leitura ficou acima da expectativa em pesquisa da Reuters, de um avanço de 0,42% no mês, e levou o IPCA a acumular em 12 meses alta de 3,93%, contra projeção de 3,89%. O centro da meta de inflação perseguida pelo Banco Central é de 3%.
“IPCA bem salgado, (que) mostra que a inflação preocupa no Brasil. Não é uma inflação fora de controle… mas é uma inflação que não vai chegar na meta”, pontuou o economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala, em comentário enviado a clientes. “Já começo a achar que o IPCA pode ir a 4% este ano”, acrescentou.
As preocupações com o controle da inflação faziam com que, entre os contratos de curtíssimo prazo, o recuo das taxas fosse um pouco menor nesta terça-feira.
“O mais próximo da estabilidade é o vértice mais curto, porque o dado de inflação veio ruim. Isso confirma a tese de que o BC vai parar de cortar juros em algum momento”, pontuou durante a tarde Spiess, da Empiricus.
Na curva a precificação seguia indicando que o fim do processo de cortes da taxa básica Selic, hoje em 10,50% ao ano, será já em junho.
Perto do fechamento a precificação da curva indicava 92% de chances de manutenção da Selic em 10,50% no encontro deste mês do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC. Havia outros 8% de probabilidade precificados que o colegiado poderá aumentar em 25 pontos-base a Selic este mês — uma probabilidade que apareceu na última sexta-feira, em meio aos ruídos da sessão. Na segunda, a probabilidade de manutenção estava em 85% e havia outros 15% precificados no sentido de alta da Selic.
No exterior, os rendimentos dos Treasuries seguiam em baixa firme. Às 16h55, o rendimento do Treasury de dez anos — referência global para decisões de investimento — caía 7 pontos-base, a 4,398%.