Não caiu bem dentro da própria base do prefeito Tião Bocalom (PL) na Câmara as declarações polêmicas dadas pelo presidente da Superintendência de Transportes e Trânsito de Rio Branco (RBTrans), Clendes Vilas Boas, durante entrevista a uma emissora de TV local na noite desta quinta-feira, 14.
Ao ser questionado pelo apresentador se ele tem medo de uma possível Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar as denúncias de assédio moral, supostamente praticado por ele contra servidores da autarquia, o superintendente disparou:
“Tenho medo nada. Além da CPI da Câmara, se for levar a sério, não fica nenhum vereador lá. Porque se for levar a sério, acho que todos têm problema com o negócio da eleição. Se eu for arrumar uma tese aqui de fazer uma denúncia de qualquer parlamentar e procurar provas, a gente encontra. O cara vai falar ‘ah, esse aqui ele me pagou esse voto’. Sempre aparece alguém pra fazer [a denúncia]. Às vezes é até mentira”.

E continua: “Se eu for sair em campo, porque eu sou um cara popular dentro das comunidades, e procurar alguma coisa das pessoas que estão me atacando vai surgir centenas de pessoas para dizerem ‘olha, ele me pagou tanto no voto’. Aí é só reunir essas pessoas e levar na Câmara e pedir a cassação do vereador, entendeu?”.
As primeiras reações à declaração vieram, na manhã desta sexta, 15, de onde não se esperava. Ambos do PSDB, o líder do prefeito na Câmara, vereador Márcio Mustafá (PSDB), e o vice-presidente da mesa diretora, Leôncio Castro, também aliado de Bocalom, emitiram nota conjunta em que repudiam as falas de Clendes.
Além deles, assinam a nota os parlamentares João Paulo Silva (Podemos), Moacir Junior (Solidariedade) e Zé Lopes (Republicanos), sendo os dois primeiros da base do prefeito. Os cinco vereadores integram o chamado Bloquinho, criado ainda no ano passado, antes mesmo do início da atual legislatura.

O documento fala em tentativa de desqualificar a função constitucional dos vereadores de fiscalizar a administração pública, classificando as declarações do presidente da RBTrans como “afronta” ao Legislativo (confira a íntegra da nota ao final da matéria).
A entrevista de Clendes deve azedar de vez sua relação com o parlamento. Antes criticado apenas pela oposição, o gestor agora terá de encarar a própria base do prefeito quando for ao parlamento-mirim na terça da semana que vem, de forma voluntária, conforme anunciado por ele nesta quinta, 15.
A expectativa é que parlamentares da própria base façam coro aos pedidos de afastamento do presidente, acusado de perseguir servidores que não fizeram campanha para a reeleição do ex-vereador e ex-líder do prefeito, João Marcos Luz (PL).
Clendes nega todas as acusações e fala em perseguição com viés político. O prefeito Bocalom descartou seu afastamento, mas ainda não se pronunciou após a polêmica entrevista concedida pelo superintendente.
Leia a nota:
“Nota de Repúdio
O Bloquinho, composto pelos Vereadores de Rio Branco: João Paulo, Leôncio Castro, Márcio Mustafá, Moacir Júnior e Zé Lopes, vem à público manifestar seu REPÚDIO aos recentes comentários do senhor Clendes Vilas Boas.
E reafirma o compromisso com o seu papel constitucional e fiscalizar os atos da administração pública, assegurando transparência e a defesa dos interesses da população.
É inaceitável qualquer tentativa de desqualificar ou minimizar a importância dessa função, que é um dos pilares do Estado Democrático de Direito.
A integridade e o decoro parlamentar são valores inegociáveis e, qualquer ataque à honra e à legitimidade desta Casa Legislativa representa uma afronta não apenas aos seus membros, mas ao próprio Poder Legislativo Municipal e à sociedade que ele representa.
Esta Casa Legislativa não se curvará a tentativas de desmoralização, e seguirá firme no cumprimento de sua missão.”