A figura do palhaço surgiu na Grécia Antiga, onde atores usavam máscaras grotescas para arrancar risos do público nas peças satíricas. Desde então, o palhaço tornou-se símbolo da alegria, porém por trás da maquiagem, existe sempre uma pessoa comum, com dores, angústias e fragilidades, muitas vezes melancólica e até depressiva. Um dos exemplos mais fortes dessa dualidade está no cinema, representado no filme “Coringa”, em que o personagem assume a persona do vilão, mas em sua essência, é um homem devastado por solidão, dor emocional e transtornos mentais.
A experiência de viver um “personagem” não é exclusiva de palhaços ou atores. Muitas pessoas no espectro autista precisam vestir uma máscara diariamente para enfrentar o desafio da fobia social e tentar se adaptar ao ambiente de trabalho, o que exige um gasto de energia além do normal. Como consequência, essas pessoas vivem constantemente cansadas e sem ânimo, pois essa luta diária pode levá-las a quadros de depressão e ansiedade.
Infelizmente, no ambiente de trabalho, surgem pessoas que procuram utilizar diagnósticos como forma de justificar a falta de compromisso com suas responsabilidades, ou seja, um escudo para a preguiça. Essa atitude revela uma postura mesquinha, pois enquanto colegas se esforçam em suas funções, acabam sobrecarregados pela ausência de quem deveria compartilhar o peso das tarefas. O problema não está no diagnóstico em si, mas na má-fé de usá-lo como desculpa. Nessa conduta, a hombridade é substituída pela vitimização.
A depressão, não é apenas um fenômeno moderno. A Bíblia, em diversas passagens, retrata personagens que enfrentaram dores emocionais profundas. O profeta Elias, após grandes vitórias espirituais, sentiu-se tão abatido que pediu a morte (1 Reis 19:4). O rei Davi, em vários salmos, expressa sentimentos de solidão e tristeza, clamando a Deus em meio às lágrimas (Salmos 6 e 42). Até mesmo Jó, símbolo da paciência, enfrentou uma crise existencial tão intensa que amaldiçoou o dia do seu nascimento (Jó 3:1-11). Essas narrativas mostram que a dor da alma é uma experiência antiga e universal.
Portanto, assim como o palhaço da Grécia antiga, que escondia seu verdadeiro rosto atrás de uma máscara caricata, muitas pessoas hoje continuam vivendo sob disfarces sociais para sobreviver em um mundo que pouco compreende suas fragilidades. O riso, o papel desempenhado, o esforço diário tudo isso pode ser apenas uma capa para encobrir o peso do vazio existencial em que muitos se encontram.