A jogada, segundo ele, foi falar de burocracia. Para evitar os trâmites de cadastrá-lo como novo prestador de serviços no clube, uma empresa já inscrita seria citada no contrato. O repasse financeiro a Toninho viria dela.
Essa versão foi confirmada por Rocha Neto à Polícia Civil.
No contrato de R$ 360 milhões, quem aparece como intermediária é a Rede Social Media Design, do empresário Alex Cassundé, que levaria R$ 25 milhões de comissão —cerca de 7% do total.
O acordo foi rompido após denúncia de que a Rede Social teria repassado mais de R$ 1 milhão à empresa Neoway Soluções Integradas —que seria uma empresa de fachada aberta no nome de uma “laranja” chamada Edna Oliveira dos Santos.
A reportagem tentou contato com Cassundé e seu advogado, Cláudio Salgado, que disseram que não se manifestariam.
O UOL questionou a diretoria do Corinthians sobre as acusações feitas por Toninho e a inclusão da empresa de Cassundé no contrato.
O clube respondeu em nota que é “vítima no caso Vai de Bet” e que o presidente do clube, Augusto Melo, “desconhece qualquer depoimento que está sendo vazado pela imprensa”.
‘Me senti lesado pelo Corinthians’
Toninho Duettos e um de seus funcionários, Sandro Ribeiro, se dizem vítimas de um golpe arquitetado por pessoas ligadas ao Corinthians.
Como não houve pré-contrato que estipulasse a porcentagem a ser paga na negociação, eles resolveram não judicializar o caso.
Os empresários estiveram na reunião que firmou o negócio e foram à posse de Augusto Melo como presidente do Corinthians, em 2 de janeiro de 2024.
Marcelo Mariano, o Marcelinho, diretor administrativo do Corinthians, e Washington Araújo, braço direito de Augusto Melo, seriam os pontos de contato de Toninho no clube.
Mas, segundo o produtor, Marcelinho parou de responder às mensagens da dupla logo após o contrato ser assinado, em 4 de janeiro daquele ano.
Sandro diz ter prints de conversas no WhatsApp, fotos e vídeos do dia em que estiveram na reunião que sacramentou o patrocínio.
“Se eu for chamado para prestar depoimento, vou mostrar. Tenho como provar tudo o que eu e Toninho falamos”, conta Sandro.
Toninho e Sandro serão convocados em breve como testemunhas no caso, dizem fontes da Polícia Civil.
Produtor sertanejo apresentou Vai de Bet
Antônio Pereira dos Santos, o Toninho Duettos, é sócio de Gusttavo Lima.
Marília Mendonça, Zé Neto e Cristiano, Maiara e Maraísa e o próprio Gusttavo Lima já passaram por sua empresa, a Duettos Music, sediada em Goiânia.
Antes da aproximação dele com o Corinthians, cantores sertanejos de Goiás já eram garotos-propaganda da Vai de Bet.
“Por eu ser conhecido, o José André, da Vai de Bet, me perguntou se eu tinha contato com o Corinthians, já que estavam fechando patrocínio master de uma bet”, diz Toninho ao UOL.
Toninho não tinha, mas conhecia o ex-corretor de imóveis Washington Araújo, aliado de Melo.
Meses antes, o próprio Araújo havia entrado em contato, sugerindo que a produtora assumisse a área de eventos da Neo Química Arena.
Toninho e Sandro enfrentavam na época uma crise financeira na empresa, e viram na aproximação uma “oportunidade de ouro”.
Em 25 de dezembro [de 2023], pensei em fechar com o Corinthians. Perguntei a Toninho se ele tinha o contato do novo presidente [do Corinthians], e ele disse que tinha. Ele marcou a reunião uns dois dias depois. José André da Rocha Neto CEO da Vai de Bet, em depoimento à Polícia Civil
Reunião em hotel de luxo
O negócio de R$ 360 milhões entre Corinthians e Vai de Bet foi fechado em 27 de dezembro de 2023, no Tivoli Mofarrej São Paulo Hotel, conforme afirmaram Rocha Neto, Toninho e Sandro.
A reunião foi rápida. Além dos três, compareceram Augusto Melo, presidente do Corinthians, e Marcelo Mariano.
Um ponto específico, no entanto, ficou sem definição: quem seria colocado como intermediário no contrato.
“Falaram que tinha que ser essa empresa [Rede Social Media Design], que já era cadastrada lá. Dariam um jeito de nos remunerar de alguma forma [pela intermediação]. Incluir a Duettos Music [no contrato] nunca falaram”, contou Toninho.
Tinha [o espaço para a inclusão de um intermediário], mas estava para preencher. Acho que ficaram na dúvida de qual empresa botar. Como é um detalhe que não afetaria meu bolso, não tive interesse de saber da questão do percentual [a ser repassado]. José André da Rocha Neto CEO da Vai de Bet, em depoimento à Polícia Civil
No último dia 9, o UOL publicou uma troca de e-mails constatando que Cassundé só foi acrescentado ao documento na quarta versão.
Cassundé, que integrou a equipe de comunicação da campanha política de Augusto Melo, foi indicado pelo ex-superintendente de marketing do Corinthians Sérgio Moura para ser o intermediário.
O UOL procurou Moura, mas não teve retorno.