sexta-feira, 26 julho 2024

Por conta da seca, comunidade indígena do interior do AC recupera poço para armazenar água

Comunidade indígena do interior do Acre recupera poço para armazenar água diante da seca — Foto: Yara Luiza Pinhanta/Arquivo pessoal

A estiagem prolongada que atinge a capital Rio Branco e municípios do interior do Acre também impacta comunidades indígenas, mais precisamente o povo Ashaninka, do Rio Amônia, em Marechal Thaumaturgo, interior do Acre. No município, os indígenas precisaram recuperar poços em razão da seca dos rios e igarapés da região.

A maioria dos indígenas usa a água do rio para beber, tomar banho e preparar a alimentação. Contudo, até mesmo os peixes foram afetados, já que com o aumento na média de temperaturas das águas do manancial, muitos morreram.

Segundo a liderança indígena da aldeia Apiwtxa, Wewito Piyãko, a comunidade sofreu diversos impactos tanto no plantio como no uso dos recursos hídricos. Por conta disso, viu-se a necessidade de recuperar poços, por meio de uma força-tarefa entre os membros da comunidade indígena, para que nem o abastecimento de água e nem os afazeres básicos diários fossem prejudicados.

“Esse foi o ano mais seco que tivemos na história porque o rio ficou mais seco. Não tivemos muito acesso para trazer de quantidade grande as nossas necessidades para abastecer a cooperativa, mas conseguimos fazer aos poucos, parcelado, com barcos pequenos. Esse ano, tivemos essa dificuldade. Outra coisa foi a recuperação das cacimbas pelo motivo de não conseguir beber água do rio. Foi um trabalho onde organizamos a comunidade para a recuperação das cacimbas daqui. Onde temos olho d’agua, fomos cavando e organizando para poder ter água potável na cozinha para beber. Isso foi muito preocupante e dessa maneira temos o diagnóstico de dizer que esse foi o ano mais quente que a gente viu na nossa região”, disse.

Estudo da morte de peixes

Estudo utilizou amostras de água do Rio Amônia e não detectou metais pesados — Foto: Arquivo/Sema

Estudo utilizou amostras de água do Rio Amônia e não detectou metais pesados — Foto: Arquivo/Sema

Conforme a Secretaria de Meio Ambiente (Sema), foi feito um estudo que utilizou amostras da água do Rio Amônia e também ouviu moradores da região. As amostras não encontraram presença de metais pesados.

“A equipe técnica conclui que, diante dos resultados das entrevistas com ribeirinhos, reunião com os representantes institucionais e levantamentos bibliográficos, no dia do evento de mortandade de peixes, no Rio Amônia, possa ter ocorrido uma diminuição das concentrações de oxigênio dissolvido, em função da elevação extrema da temperatura da água, associada ao baixo nível da coluna d’água, tornando o ambiente inóspito aos peixes”, afirma o estudo.

A secretária de Meio Ambiente Julie Messias voltou a ressaltar que o problema tem sido registrado em vários estados da região Norte, e afirmou que as possíveis causas continuam sendo debatidas para a definição de soluções.

“Infelizmente, os outros estados da Amazônia também enfrentaram a mesma situação. O laudo da avaliação da qualidade da água que descarta contaminação, acende um outro alerta que é a alta temperatura da água. Estamos dialogando na Sala de Crise da Região Norte, da Agência Nacional de Águas (ANA), a qual a Sema, por meio da Sala de Situação, integra”, disse.

O vídeo em questão (veja acima) foi feito por um pescador que mostra peixes que apareceram mortos no Rio Amônia, em Marechal Thaumaturgo. No vídeo, o morador, identificado como José Mendes, se impressiona, e diz nunca ter visto essa situação.

“Olha aqui nesse balseirinho, como é que está cheio de peixe morto. Creio que é consequência das nossas queimadas. Eu nunca tinha visto, no Amônia, morrer esse tanto de peixe. Isso é aqui no meu porto, só nesse porto, isso tudo de peixe”, diz.

À época, a prefeitura de Marechal Thaumaturgo e a Sema informaram que iriam acompanhar o caso. Um biólogo ouvido na época em que o vídeo do pescador foi divulgado, considerou possível a hipótese de que o aumento na temperatura das águas pode ter causado a mortandade de peixes. Porém, Marllus Rafael Almeida ressaltou que apenas a análise das amostras de água poderiam dar certeza.

‘Extrema seca’

Seca extrema: Nível do Rio Acre continua abaixo de 2 metros na capital acreana — Foto: Tácita Muniz/g1

Seca extrema: Nível do Rio Acre continua abaixo de 2 metros na capital acreana — Foto: Tácita Muniz/g1

O decreto 11.338, publicado no dia 6 de outubro no Diário Oficial do Estado, estabeleceu situação de emergência no estado do Acre justificada pela “situação anormal caracterizada como situação de emergência em decorrência do cenário de extrema seca vivenciado e da iminente possibilidade de desastre decorrente da incidência de desabastecimento do sistema de água no estado do Acre”.

A normativa, que tem 90 dias de vigência, não fala em dados ou números relacionados às medidas, mas ressalta ainda que há risco de aldeias indígenas ficarem isoladas devido à falta de navegabilidade dos rios, ocasionando diversos problemas de abastecimento de alimentos e outros insumos a essas comunidades.

Por conta desta situação, o governo do Acre criou um comitê para a tomada de decisões. A medida se baseia em levantamentos que apontam uma estiagem prolongada nos meses de outubro, novembro e dezembro.

G1 AC

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