sexta-feira, 26 julho 2024

Venezuelana denuncia que teve filha levada de abrigo e PF apura caso no interior do Acre

Na madrugada do último dia 5 de outubro, por volta de 3h30 da manhã, a venezuelana Yusneily Mudarain levantou de sua cama na Casa de Acolhida de Brasiléia, no interior do Acre, mantida pela Diocese de Rio Branco. Ao acordar, percebeu que a filha Eduarly, de 15 anos, não estava no quarto. Ela levantou e procurou pela menina, mas não a avistou. Nesse momento, começou um pesadelo.

Em entrevista, traduzida do espanhol, Yusneily explica que chegou ao Brasil junto a seus quatro filhos e o marido Wilman pela fronteira com o Peru no dia 5 de setembro. A família morava no Equador desde o ano passado, e veio ao território acreano para entrar com pedido de refúgio, com o objetivo de chegar ao estado de Minas Gerais. Enquanto aguardam a emissão dos documentos, foram levados ao abrigo no interior do estado.

Um dia depois, na tarde de 6 de setembro, uma outra família de imigrantes, composta por cinco adultos, uma adolescente grávida e uma criança, chegou ao abrigo. Yusneily lembra que o grupo era reservado, e não conversava com outros moradores. Porém, ela relata, a família falava frequentemente com Eduarly. A mãe da jovem achou estranho, mas não viu problema, pois imaginava que a filha estivesse fazendo novas amizades. Porém, na noite do desaparecimento de Eduarly, ela acordou o marido para que a ajudasse a procurar a menina, e eles notaram que a família também não estava mais no abrigo.

“Eu fiquei vários dias mal, com muita dor e em noites anteriores, me levaram ao hospital para eu fazer tratamento contra essas dores. Nos dias seguintes, continuei assim. Na noite do dia 4 me aplicaram uma benzetacil e eu fui para a cama ver se dormia, porque doía muito. Eu dormi e quando acordei às 3h30 mais ou menos, ela já não estava. Saí da casa, acordei o segurança e disse que minha filha já não estava lá. A grade estava aberta pois não tem segurança alguma. Essas portas ficam abertas. Saí para ir atrás dela nos arredores e não a encontrei. Fui acordar meu marido e comentei que não conseguia achar a menina. Nós fomos até o quarto dessa família e o resultado foi de que nem a família e nem as coisas deles estavam lá”, relembra.

Nesse momento, a Polícia Militar foi acionada, mas, segundo Yusneily, responderam que não poderiam fazer nada, e que ela deveria aguardar 48 horas para fazer a denúncia. Na manhã seguinte, a família foi à delegacia do município, e teria ouvido uma resposta parecida da Polícia Civil.

“Logo no dia 5, fui com uma senhora na Polícia Civil para fazer a denúncia e me disseram que eles não poderiam fazer nada, porque aqui no Brasil, há uma lei que diz que logo após adolescentes completarem 15 anos, podem viver com quem eles quiserem”, conta.

O secretário de assistência social do município, Djailson Américo, afirmou à reportagem que foi informado pela coordenação do abrigo de que a jovem estava em um relacionamento e foi embora junto com o namorado e a família dele.

“A mãe da jovem já foi para Rio Branco, só fez o registro. A jovem foi com a família do namorado. Saíram na madrugada”, resumiu.

Sobre as críticas feitas por Yusneily, a assessoria de imprensa da Polícia Civil ressaltou à reportagem que casos envolvendo imigrantes costumam ser responsabilidade da Polícia Federal, mas que independente da nacionalidade, é garantido o direito de registrar boletim de ocorrência, e que cabe ao delegado expedir a ordem de investigação.

Já a assessoria da Polícia Militar negou que a corporação tenha recusado auxílio à mãe da jovem, e informou que policiais foram até o local e conversaram com ela. Como a mulher não conseguiu fornecer mais informações que pudessem auxiliar nas buscas, foi orientada pelos PMs a procurar a delegacia.

“Os militares do 5° Batalhão de Polícia Militar, em Brasiléia, receberam o chamado do Copom e se deslocaram para o atendimento da referida ocorrência. Chegando ao local, conforme consta em relatório do Centro de Atendimento, a mãe da menor de idade disse que a filha havia fugido com duas pessoas e não conseguiu repassar mais nenhuma informação que pudesse auxiliar em buscas. Os policiais então orientaram a senhora estrangeira a procurar a delegacia para registrar o desaparecimento”, disse a corporação.

Busca

Na busca pela filha, Yusneily e a família foram para um abrigo em Rio Branco. Na capital acreana, ela conta que informou a situação a agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF-AC), que a levaram à sede da Polícia Federal (PF-AC), onde ela relatou o caso. À reportagem, a PF confirmou que está apurando o desaparecimento de Eduarly, e que ainda não há mais informações sobre o caso.

No relato que passou à PF, ao ser perguntada se a filha apresentou mudanças de comportamento nos dias anteriores ao desaparecimento, Yusneily disse que notou a filha mais calada e distante.

Com a preocupação de não ter contato com a filha e não saber se ela está bem, Yusneily tem recorrido às orações para pedir o retorno de Eduarly. Ela diz ainda que tem fé que a PF conseguirá encontrar a menina. Segundo ela, os agentes iniciaram as buscas na última sexta-feira (6).

“Esse é um desespero muito grande que não desejo a ninguém, e estou pedindo muito a Deus que ela esteja bem e que mande sinais logo, que não lhe aconteça nada e que volte rápido, sã e salva”, finaliza.

Mãe da adolescente mantém orações enquanto espera pelo retorno da filha — Foto: Arquivo pessoal

Mãe da adolescente mantém orações enquanto espera pelo retorno da filha — Foto: Arquivo pessoal

G1 AC

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